Imortais. Falávamos pouco, beijávamos muito.
Sob
as sedas do vestido colorido e o punho de minha camisa branca trocamos o
primeiro roçar de mãos, observados pela natureza em plena primavera. Não havia
palavras, apenas sorrisos, e nossos olhares ignoravam qualquer coisa que não
pudesse emoldurar nossa felicidade como a um quadro das tenras Eras.
O perfume das flores inebriava os
nossos sentidos e como um ímã me fazia curvar o corpo em direção ao dela, os
lábios ao encontro dos dela, sem questionamentos.
Ela sorria, curiosa, me observando o
tempo todo. Falava suavemente em oposição ao meu tom rouco, quase inaudível.
Quando me tocava conseguia nos transportar para um mundo de sonhos, todo nosso.
Um mundo no qual ninguém mais sobreviveria.
Ela costumava desenhar o que via, e
pintar obras primas ainda melhores do que as reais. Não pensava sobre isso, mas
retratava a minha vida com ela em todos os aspectos.
Eu a amava pelo que via e pelo que ela
representava tão bem: o meu único elo com outra pessoa em todos os tempos. A
minha determinação distraída parecia atraí-la, um dia me disse se sentir
protegida pela fúria contida em meus olhos, e o calor imortal dos meus braços.
Jamais comprometemos o nosso tempo
juntos com palavras desnecessárias. Falávamos muito pouco. Beijávamos muito.
Isso não me enganava. Eu levaria a eternidade para descobrir todos os segredos
contidos em cada curva do seu corpo. Era tarefa hercúlea e prazerosa.
As
tardes se alongavam mornas e invadiam a noite da mesma forma suave como eu a
possuía, e sob a madrugada coalhada de estrelas deitávamos felizes, abraçados
adormecendo à espera de um novo amanhecer.
Quando os olhos se afastam de nós dois
e os murmúrios de surpresa e comentários esplendorosos se afastam, o museu é
fechado e lá ficamos nós, presos em nosso mundo particular com atmosfera
aprazível, apaixonados eternos em uma pintura monumental, significando coisas
diferentes, mas ainda assim alheios, como em toda a vida que passamos imortais.
Marcelo Gomes Melo
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