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Amores pouco plausíveis, irresistíveis



        “Há tempos não nos falamos. Será que você ainda pensa em mim? Talvez. Não como antes. Não depois dos caminhos tortuosos pelos quais passamos.

          Eu sei, eu sei, esse parece ser o destino dos apaixonados. Não dos jovens, esses experimentam novos caminhos, aparentemente frios, paradoxalmente insensatos. Mais ou menos como o éramos na nossa idade, apenas com mais entusiasmo e romantismo.
          Nós carregamos o espectro da nossa geração, querendo amor, felicidade, tesão e prazer no mesmo pacote, no meio da turbulência que hoje parece fichinha perto do que acontece para uma geração perdida, prestes a ser dizimada pelas próprias escolhas.
          Ainda assim nos perdemos, eu e você, aprendendo a sofrer separados, alternando desejo irrecusável, irreparável com a dificuldade gigantesca de conseguir equilibrar as impossibilidades, até que nos afastamos por orgulho, a maior barreira para quem sabe que se gosta, mas não consegue resistir e dar o braço a torcer em nome de um bem maior para nós mesmos.
          Será que pensamos um no outro com a mesma intensidade, com o mesmo desejo e proteção que nos fazia indestrutíveis? Cada um toma uma decisão que cria um labirinto muito maior, à prova de som, de calor, impossível de manter qualquer coisa viva além de ressentimentos e dor inacabável, acusações e desconfianças sem retorno, alimentadas na fornalha da distância.
          Um se engana parcialmente com novas aventuras, o outro com desconfiança eterna impedindo novas aventuras. E nesse período interminável sempre uma coincidência essencial: saber um do outro é uma atração irresistível, mesmo que secretamente, para manter a sanidade. Ou terminar com ela”.



Marcelo Gomes Melo 

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