O amor é um avião paraguaio pronto para desmontar no ar
-
Este é o galho seco que eu trouxe para você.
Ela observou o presente dele, dentre
buquês elaborados de flores raras e belíssimas que a cercavam, oferecidas pelos
vassalos mais dedicados, predadores mais qualificados em busca dos seus
favores. E olhou do galho seco para ele, e dele para o galho seco algumas
vezes, a sombra de um sorriso e a curiosidade estampadas em seu belo rosto. A
interrogação se fez sem palavras e ele, com simplicidade, não se negou a
elucidar.
- Nesse galho havia uma flor cujo
perfume é inebriante, e foi a semente dessa flor que eu plantei no jardim ao
lado do quarto no qual faremos amor, sob a nossa janela. Isso garantirá a
atmosfera perfeita para a nossa conexão preciosa e sentimento imutável.
Guarde-o como um amuleto e ao perfume dessa maravilhosa flor se juntará o seu
apaixonante odor. Então teremos o jardim perfeito e o amor perfeito.
E ela pendurou o galho seco protegido
por um saquinho de veludo na correntinha do pescoço, ficando entre os seios,
próximo ao coração.
Ele soube que estar ali, longe da
ostentação para os olhos, era o local mais seguro, derrotando os concorrentes
fúteis com belos presentes que duram pouco e desaparecem, ficando na memória
por poucos momentos, logo substituídos por mais belezas onerosas e com
significado pouco sincero, de alto valor material, como uma negociação e não
uma demonstração de amor. Uma diferença gigantesca entre o precisar e o querer.
O “precisar” de alguém não é uma relação
com reciprocidade e sim unilateral, porque quem precisa é egoísta, deseja
apenas receber sem se lembrar em retribuir. Já quem “quer” faz uma escolha
clara por alguém em especial, e irá manter e cuidar na mesma medida em que for
agraciado.
O amor é um avião paraguaio pronto
para desmontar no ar.
Marcelo Gomes Melo
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