Considerações sobre a arte de se tornar antigo
Dizem
que não percebemos o tempo passar para nós mesmos, ou para as pessoas com quem
convivemos mais proximamente. Trata-se de um artifício divino para tornar a
perda de vigor e impulsividade compensada pela experiência e habilidade de
construir novos planos; usar o comedimento e exercitar a tolerância, coisa que
não faz parte do pacote da juventude, para a aquisição de qualidade de vida,
que devemos definir como viver com menos escolhas, mas que sejam de valor
imenso, tornando a transição para a velhice mais confortável e suportável.
Só percebemos as mudanças físicas
quando ficamos algum tempo longe do convívio com as pessoas a quem estamos
acostumados, e isso nos surpreende, para bem ou para mal. As mudanças
psicológicas levam mais tempo. Os sonhos mudam drasticamente. Alguns são
vencidos porque desistem que desejaram na juventude, outros estão estressados
simplesmente por não terem tido cuidado com o que desejaram e obtiveram êxito.
A vida gira tão rápido que nos
confunde e mascara o que somos e como somos, graças à perfeição do Criador, que
nos permite suportar, superar e retirar o sumo da felicidade e do amor, ainda
que conturbado. As pequenas coisas, os atos desprovidos de intenções, a
sensibilidade de perceber a natureza e os olhares, de absorver os sorrisos e
devolvê-los ao mundo como brilho pessoal.
Mesmo
a futilidade acontece para embalar os espíritos fracos, os que se vendem para
comprar ilusões, os que cultivam as tristezas como se fossem flores e esquecem-se
de ativar o modo resistência, que consiste em compartilhar, confiar e colaborar.
Em curta definição: amizades e amores.
Os que se esquecem dos benefícios da
antiguidade sofrem, procurando parar o tempo e permanecer no nível em que
desejam e acreditam, erroneamente, poder manter. É nesse momento que as dores
se identificam, as atitudes saem do controle e a ridicularização destrói a
consciência.
Como degraus e prateleiras, as pessoas
se acomodam da maneira que podem, equilibrando-se, mantendo a sanidade e
superando desafios, cada um no seu próprio ritmo.
É muito bom poder analisar os
acontecimentos sem o tipo de indignação imediata, que empana os sentimentos
bons. Deixar que os sentimentos fluam sem o medo de diminuir-se por isso,
resolver as pendências consigo mesmo, viver sem complexos, abrindo mão do
tempo.
A perfeição? O fim? O início de outro
turno? Na verdade nada disso importa quando a venda em seus olhos signifique
que há um transporte para qualquer lugar, mas quem está aqui, jamais saberá...
Marcelo Gomes Melo
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