Se ela quisesse já teria vindo, a essa altura. E eu não estaria aqui parado nesse abrigo de um ponto de ônibus, no fim do mundo, observando a chuva fina formar poças na rua de terra. Ao fundo, uma mata, enxertada com alguns casebres.
A essa altura, fim do fim da tarde, fosca, destacando luzes mortiças de lampiões, aqui onde a esperança não chega, e ninguém fala alto, porque o silêncio é tão dominante que costuma ler os seus corações assombrados.
Olhando para o chão vejo os meus pés molhados, os sapatos manchados de barro como a minha esperança, desgastados pelo tempo, mas ainda de muita utilidade, como a esperança. Qualquer esperança.
Barulhos vindos da mata. Ou do meu próprio cérebro trabalhando a mil por hora, incessantemente focado apenas em quando ela chegasse, como eu ficaria agradecido, a ponto de renascer! Recomeçar a jornada sem o peso inclemente que carrego às costas, com pecados individuais, coletivos e alheios. Com as dores do mundo e à procura de alívio que não creio ser possível, com os meus resquícios de esperança ali, ensopados pela chuva de vento, sem ter como esconder meu remorso, meu cansaço, minha solidão.
Ela, minha diva, minha sina, onde estaria? E se estivesse em algum lugar, chegaria? Ali no limite da minha alma, à porta do calabouço, a entrada sem ticket que os derrotados pelo tempo recebem e não podem recusar. Anoitecia rapidamente, céu sem estrelas, todos os sinais de que ela não iria chegar. Nem o ônibus.
E então ouvi um barulho de uma chave, uma porta atrás de mim se abrindo e uma voz idosa, enrouquecida pela falta de uso se dirigiu a mim.
- O próximo ônibus só amanhã às sete, meu filho.
Olhei para a figura mirrada, enrugada, de olhos gentis profundos e experientes, que acenou para mim.
- Venha, tome uma xícara de café, uma refeição quente. Tenho uma cama simples disponível, na qual passará a noite em segurança.
As lágrimas que desceram livremente dos meus olhos eram mais quentes do que a chuva. Finalmente ela chegara, restaurando a minha esperança imediatamente. Era ela, que tardava, mas jamais falhava. Era ela, a minha inabalável fé!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!