É o milho, meu filho, trata de plantar o milho. Sob o sol do meio-dia trabalho duro, pele escurecida, comida aquecida pelo calor da terra, água morna para manter a hidratação, a ausência de pensamentos, apenas o foco na labuta, bruta, inesgotável, o uso da terra fértil para plantar alimentos que manterão vivos com o mínimo necessário, mas produzido com suor e lágrimas, honestamente, em uma luta constante com as forças da natureza guiadas por Deus, o único a quem podem apelar para não perder o plantio e submeter-se às agruras da fome, da sede, da perda, da morte.
É o plantio do arroz, irmão, para sustentar em pé os homens, mulheres e crianças que dependem do que plantam, do que colhem e procuram revender para atenuar a falta de outros ingredientes que são sinônimos de dignidade.
Em seu pedaço de mundo, afastados das áreas urbanas, dormem cedo, acordam cedo, trabalham o dia inteiro, e aos domingos resta a missa que os alimenta de autoestima e força para continuar brigando, um almoço simples e uma dose de cachaça e um cigarro de palha, descansando na varanda enquanto as crianças trabalhadoras aí viram crianças de verdade e brincam alegremente com tão pouco.
O que trazem em comum são as fisionomias marcadas, envelhecidas, dos olhos entristecidos, os cérebros desprogramados para qualquer ambição. São como bois que vivem sem razão aparente, sobrevivendo com pouco até serem sacrificados porque é assim que são as coisas na Terra.
Não questionarão a si mesmos jamais, Deus sabe o que lhes está destinado e é assim que se resume toda a explicação. Até que a avalanche urbana surge com os seus vícios mercantis, compram, exploram e carregam tudo o que podem, inclusive a paz.
A invasão é imparável, não há como conter a fome urbana de poder, tomando tudo, mudando a rotina e escravizando tranquilamente, substituindo mãos por máquinas e excluindo sem dor na consciência, por vilania, poder e dinheiro. É o início do fim do mundo, que acaba para os que ficam pelo caminho.
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