Eu não gosto de crianças. Não gosto de adolescentes. Não suporto velhos, abomino jovens e odeio adultos. Eu não gosto de ninguém! Nenhum que seja da minha espécie.
Rotineiramente sou comum como qualquer outra pessoa, invisível aos olhos de qualquer um que caminha perdido nos próprios pensamentos, remoendo os próprios problemas e os de familiares próximos, com os quais não pode deixar de se envolver.
Invisível para os inocentes que sonham acordados fitando o céu no espaço entre os edifícios, acreditando em uma chance que mudará suas vidas, mas jamais acontecerá.
Eu conheço todos os da minha espécie, através de estudo sociológico amador. Os devedores, os presos às promessas que não podem cumprir, os invejosos que desejam o que imaginam que outros possuem, e sofrem sem ter a certeza.
Eu desprezo os possuidores, desconfiados com todos os que os cercam achando que querem rouba-los de alguma forma, por isso agem com rudeza e distanciamento. Acreditam que podem comprar qualquer um e descartar como lixo não-reciclável. Quero distância desses bandidos fúteis, corruptos sedentos por poder, assinando centenas de mortes por dia antes de almoçar, acabando com famílias antes do happy hour, saboreando uísque enquanto moradores de rua aumentam.
Detesto covardes. Os que se curvam ao destino e lamentam-se como velhas agourentas, transmitindo a culpa para o mundo. Ou os que entregam até o que não têm em nome de uma prosperidade unilateral que só chega aos palestrantes, religiosos ou de autoajuda, que só ajudam a eles mesmos sem nenhum remorso.
De vez em quando eu penso que se Papai Noel existisse o meu pedido seria um arsenal destrutivo para acabar indiscriminadamente com o sofrimento de todos. E então restaria apenas eu, sem ter a quem odiar, até que encontrasse um espelho.
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