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Dissecando seres em decadência


Nessa casa afastada, observando a chuva preguiçosa a molhar o meu mundo, busco um diálogo mudo com a minha ansiedade, tramo esquemas intrincados com a própria solidão, me sinto inserido no cenário, molhado até os ossos, entristecido pela própria existência passiva, que observa o entorno e não move uma palha para mudar os acontecimentos, vítima da procrastinação, escravo da falta de atitude pela qual me ressinto e procuro, de alguma forma pagar os meus erros por omissão, não por ação.

A astúcia é enganosa e leva a atitudes covardes, pensando que são defesa corajosa do amor próprio, um muro erguido como proteção, que torna um ambiente seguro e inalcançável, onde os desejos não causam problemas e as decepções jamais são convidadas.

É nesse ambiente cinza que o verde lá fora se destaca, a chuva monótona insiste em olhar o coração com lágrimas de crocodilo, porque não sinto nada. O vazio se estende de dentro para forma e me camuflo ao ambiente, me tornando um móvel, um objeto de decoração que vai perdendo a noção do que é ser parte da humanidade, deixando escapar instintos e preferências para virar um enfeite manuseando displicentemente por uma visita curiosa que sempre devolve o bibelô para o lugar errado.

Esse processo de desumanização é lento, constante, persistente e prático, eficiente na ação de desmistificar, arrancar pela raiz qualquer resquício de opinião própria, contando com todos os acessórios para convencer, diluir a razão e o desejo de um cérebro em  mutação, domado, contido e delineado para ressecar como uma planta, perdendo a vida e os atrativos até ser completamente ignorado, esquecido e marginalizado.

O canto dos pássaros lá fora, hipnotizantes, sugerem ainda mais a desconstrução de um ex ser humano, agora um mero enfeite na mesa de um dominante, um quadro na sala de uma madame, mais um morador de um zoológico terminal em que as pessoas que deixam de raciocinar, esquecem que são pessoas, vão desaparecendo aos poucos, em uma transição para um novo mundo no qual serão objetos inanimados observando a vida sem participar, sem o poder de palpitar e ajudar nas mudanças que diariamente acontecem.

Resta saber se essa anômala mutação para por aí ou continua, cada vez mais rebaixando hierarquicamente a quem era humano até que não reste nada em que se transformar. Aí tudo recomeça, ou é o fim realmente?

 

Marcelo Gomes Melo

 

 

 

 

 

 

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