Por
noites a fio vagando em uma jangada na escuridão de alto mar, ao sabor das
ondas fervorosas e implacáveis, lutando contra a força do vento e as pancadas
certeiras das ondas, tentando sobreviver em um sonho inacabável, que se repetia
em looping, sem permitir concentração nem firmeza de pensamento. Não havia
horizonte onde se apoiar, era total perdição.
Um
homem pode lutar contra os seus maiores medos secretos, acordar suado no meio
da noite, de olhos arregalados e mãos crispadas refletindo o horror do pior
pesadelo. Quando acontece não é motivo de orgulho, é um mergulho nas
profundezas das águas escuras, onde não há tesouros perdidos nem navios
afundados. Respirar é tudo o que importa, e torna-se cada vez mais difícil.
Força de vontade é o que se espera de um escritor de versos itinerante que
perdeu os cadernos e as canetas em meio à uma confusão sentimental.
Esses
acontecimentos destroem a harmonia, tiram a fome e a sede, acabam com a
imunidade por excesso de orgulho e irritação sem fim; afetam a clareza dos
pensamentos, envenenam a alma e causam tristeza e dor.
As
imagens tenebrosas se multiplicam e o sol jamais nasce. Não há lua, há
relâmpagos e trovões intermitentes, flashes que dificultam enxergar. As mãos geladas
de uma porta lhe arrancam o tato; não há olfato para flores nem sabor para
lábios secos quando somem as palavras, as construções verbais ficam óbvias e o
mistério se perde, os múltiplos significados impedem que os leitores enriqueçam
enxergando de diversos ângulos, entendendo de acordo com as próprias
necessidades.
É
a batalha eterna do poeta, acariciar e convencer aos seus versos que se
coloquem nos lugares certos, mesmo que fiquem confusos para muitos, mas
perfeitos para os escolhidos.
Isso
faz dele um mártir e um herói, transpondo a escuridão, ajustando a claridade e
definindo novamente as cores, as paixões... Encontrando os versos perdidos.
Marcelo
Gomes Melo
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