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A imagem do amor que tínhamos



          Cactos. Com açúcar. Um entardecer perfeito seguido de noite tempestuosa, escuridão completa iluminada por relâmpagos, belos, mas perigosos; e trovões assustadores como pano de fundo.
       A afirmação viva de todo paradoxo existente no universo, somadas às sensações naturais, artificiais e passíveis de descobertas.
          Uma visão do horizonte árido e seco, a resiliência alimentada por felicidade, corroída pelo ódio causado pela frustração. Ódio letal, mas passageiro, jamais motorista.
          Retoques dourados valiosos em objetos toscos, aplicados com mãos piedosas e limpas sem nenhum cuidado, apressados, impiedosos.
         E ainda assim sobrevivia. De forma imprevista, uma surpresa em cada curva, sem cobranças audíveis; nada que um toque entre as mãos não resolvesse. Funcionava sem concessões, com ferimentos e machucados curados com vodca e boa vontade. A tristeza adicionava períodos soturnos enquanto durava, sem autopiedade nem acusações infundadas.
          Os dias duravam séculos, o sono não nos alcançava, as maratonas eram exaustivas e compensadoras, o ritmo era constante.
          Hoje o que se vê são terrenos mortos, vazios, cobertos por um céu pálido. Não há brisa, muito menos ventania; sem férrea determinação, sequer mania...
         Olhares cegos para o óbvio, batidas lentas de corações anestesiados. Ausência de presente, inexistência de futuro. Constatação de um passado distante que se esvai a ponto de não deixar certezas. Uma dúvida tão real que tende a desaparecer.
  



Marcelo Gomes Melo

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