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Teorias mundanas polarizadoras?



      Após fechar um contrato milionário de marketing, uma equipe de profissionais liberais e amigos se reúne para comemorar o grande feito que garantiu bônus maravilhosos para cada um deles.
          Uns drinques em sequência e logo a alegria estava quase carnavalesca. Eis que um dos rapazes resolve lançar uma pergunta supostamente engraçadinha para causar polêmica e discussão filosófica polarizada, como os seres ditos civilizados costumam fazer no auge do século XXI.
          A famigerada pergunta foi dirigida ao líder do grupo, o mais experiente e, aparentemente o mais cético e frio. Jamais se perturbava com nada; era claro e objetivo, ignorava o politicamente correto.
          - A questão que coloco é legendária, e vem aporrinhando a cérebros masculinos através dos tempos, sem uma resposta satisfatória. Talvez você, meu caro Julius, com a sua sinceridade desconcertante possa solucionar, de uma vez por todas esse mistério: Quais são as duas coisas que as mulheres consideram como as mais importantes de suas vidas?
          Com um olhar indiferente Julius responde de pronto, sem pensar nem elevar a voz:
          - Pica e dinheiro... Não necessariamente nessa ordem.
          O silêncio momentâneo foi quebrado por uma jovem loura com indumentária vermelha que se ergueu, quase derrubando a boina e o contestou, indignada.
          - Você é um machista nojento! Como pode afirmar uma coisa tão chauvinista com tanta tranquilidade?! Nós, mulheres independentes e libertárias, participantes do século das mudanças, somos muito mais do que interesseiras atrasadas! Queremos tomar livremente nossas próprias decisões sem... – Ela interrompeu a própria fala assim que percebeu que Julius estendia na direção dela um cheque.
 


              - O que é isso? – e percebendo o olhar irônico dele, completou – Eu sei que é um cheque, mas...
          - O superintendente da empresa que fechou contrato conosco veio pessoalmente mais cedo para parabeniza-la pelo excelente suporte que você ofereceu a eles, tornando possível a todos faturar muito dinheiro. Como você trabalha conosco ele resolveu lhe premiar, deixando esse cheque como bônus especial de agradecimento pelo seu incrível talento.
          - São... – boquiaberta, com as mãos trêmulas segurando o cheque – Cento e setenta mil... reais?!
          - Olhe direito. São dólares.
          Ela estava com o rosto afogueado e a respiração entrecortada. Nenhum discurso sairia daquela boca naquele momento.
          - Ah! Ali estão as flores que ele lhe deixou. – Apontou para um canto que ela olhou, mas não deu nenhuma importância. O olhar continuava colado ao cheque.
          - Há, entre as flores, um cartão com um endereço e o número do celular particular dele. O superintendente se encantou com você e lhe convida para um jantar a dois na mansão dele esta noite. Pediu que você ligasse assim que recebesse esses presentes.
          Ela embolsou o cheque rapidamente e voou em direção às flores. De posse do cartão afastou-se dos amigos enquanto empunhava o celular. Ao ser atendida usou o tom de voz de Marilyn Monroe quando cantou “happy birthday” para o presidente americano Kennedy. O mais sedoso e sexy do universo!




        Os amigos se entreolharam com cumplicidade, cada um tentando segurar o sorriso, mas ergueram os copos e brindaram barulhentamente às dificuldades de entendimento dos seres humanos a respeito de coisas assim nem tão importantes, porque ao final tudo se ajeita.
          A mesma voz do início se ergueu novamente, com outra pergunta:
          - Quais são as duas coisas que os homens consideram as mais importantes de suas vidas?
          A resposta veio rápida. Autoexplicativa.
          - Dinheiro e mulheres.




Marcelo Gomes Melo


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