O beijo do escorpião
Kaçussa
me ofereceu o beijo do escorpião, transformando os meus pensamentos em seres
alucinantes que caminhavam pelas paredes enquanto eu me contorcia com o toque
dos lábios dela em pura brasa.
Chamas azuis escapavam dos olhos dela,
e o seu corpo era uma lanterna aquecedora no meio do quarto escuro, fazendo com
que a cama chacoalhasse tal e qual uma nau enfrentando uma tormenta tirana
antes do amanhecer.
Ela tirava de mim as energias que
alimentavam às suas curvas e dos gemidos sussurrados suavemente, contrastando
com a aparência feroz, o aspecto voraz dos seus movimentos.
Nunca reclamei dos clamores nos olhos
dela, apertei os olhos para focar na imagem enevoada de uma potranca invencível
que a mim se oferecia e se entregava ao mesmo tempo em que nos perdíamos em
lugar incerto e não sabido.
O olhar paralisava, os lábios
envenenavam, e após esses pontos não era mais possível distinguir dia e noite,
quente e frio... Nenhuma hesitação, apenas paixão em rotação máxima.
Kaçussa me viciou em seu beijo
envenenado que contava histórias jamais imaginadas e prazeres nunca
experimentados. A via era de mão dupla, uma pantera e sua jaula, a mão que
alimentava e o corpo que a agasalhava, a voz que lhe fazia terna e tranquila.
A
paz dos emparelhados, o som com os signos criptografados que servem apenas aos
ouvidos treinados, a luz que permanece apagada e a crueldade de pensar em um
futuro em que nada disso exista.
Marcelo Gomes Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu feedback é uma honra!