Nostalgia. Os facões se cruzam na escuridão, ossos partidos e gritos terríveis permanecem colados ao ouvido como uma trilha sonora inacabável. Os passos próximos ao pântano ficam mais incertos, o equilíbrio difícil. O fog. Fumaça gelada cobre o corpo, a capa e os cílios com fragmentos brancos, a luva negra que enverga a espada pede mais sangue para fertilizar as árvores anciãs que habitam o local desde o começo do mundo, e impassíveis observam os passantes desaparecerem sem o próprio sangue.
Nostalgia. O som cadavérico fluindo do fundo da garganta, os olhos sem vida mirando o além, os dedos ossudos apontando para a próxima vítima. As suas orações não lhe ajudarão nesse momento, garoto errado, você chegou ao ápice da inabilidade, nas profundezas de uma cidade pervertida, é hora de pagar o seu quinhão de pecados, e piedade é uma palavra inexistente nos livros dessas bandas.
A consequência dos atos e escolhas se lhe apresenta, não cabe a você desculpar-se. Chore sempre, o desespero está apenas começando. As lutas na escuridão com as armas de aço tilintam como taças de cristal, mas o vinho é muito mais viscoso.
Os membros separados dos corpos espalhados pela vala são como um quebra-cabeças, e quem conseguiu montar de forma decente carregou além da tumba o seu próprio Frankenstein. Destinados a vagar pelas noites sem lua e dias sem sol, não são vistos pelos vivos, assombram a si mesmo por não se enxergarem a si mesmos em qualquer espelho.
Essa insanidade não é real, é virtual, tente se convencer. Cavalgue sobre espadas afiadas e mergulhe nas brasas da fogueira imortal. A dor é uma sirene, enganando os seus estertores como se fossem vida, mas não o é, acostume-se. Reviver é impossível, sorrir, inviável, perecer, inevitável.
Concentre-se em sua taça de sangue, outubro acabou. Amanhã vista a roupa social e curta a ressaca, esqueça tudo o que sofreu até o ano que vem, nessa mesma data. Os outros dias lhe oferecerão apenas pílulas do que virá.
Marcelo Gomes Melo
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