Breve relatório sobre os esquemas individuais para lidar com o amor
Simone
ama menos nos dias chuvosos, porque ela acredita que o amor que lhe cabe será
diluído e levado pela enxurrada para longe demais, e assim demorará a voltar.
José
tira a camisa e se atira no chão de sua propriedade de terra batida sob a chuva
torrencial, porque acredita que será encharcado de amor, com gotas maravilhosas
lavando a sua alma por todos os poros, então abre os braços e sorri largamente,
deixando-se açoitar por amor líquido e certo.
Tariq
restringe o seu amor à sombra nos dias quentíssimos sob o sol imperioso. Ele
crê que será ressecado e seu amor, trincado como um solo sem água, caso se
descuide.
Georgina
confia mais no escuro da noite, nas luzes difusas e odores saudáveis, que
inspiram e incutem o sentido da coragem eterna para atos incontáveis e
indizíveis. Fora isso ela se recolhe com pudor e se finge de pedra.
Raul
tem coragem e, com a faca entre os dentes adora a floresta que o cerca e
sufoca, tomando-lhe o amor à força, vencendo-o em seu próprio jogo. Depois,
cansado, esgotado, se arrasta de volta à fogueira, para esperar, com o senso de
sobrevivência aguçado, um alívio completo e um medo persistente no fundo do seu
ser.
Elena
bebe. Ela acha que o álcool a manterá entorpecida quando o amor se dispersar e
aposta nisso para esquecer. Elena é cética e prefere o palpável ao
inconsistente, embora deseje o estado alterado da percepção para lhe proteger
do que inexiste. Caso inexista.
Arthur
e Serena não amam.
Marcelo Gomes Melo
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