- Homem do amor... Homem do amor, você está aí?
- Não.
- Se não está, como respondeu?
- Se sabe que eu estou, por que perguntou?
- Eu pergunto o tempo todo.
- Eu sei, garotas perguntam o tempo todo. Mulheres julgam
saber de tudo.
- Esse não foi um comentário machista?
- Qual? Você ser garota ou mulheres terem certezas?
- Oh! Só agora percebi que foram dois!
- Não pode contestar algo ao qual não se atentou.
Pausa breve.
- Homem do amor...
- Oi.
- Por que lhe chamam assim?
- Assim como?
- Homem do amor, oras! Você é mais qualificado do que os
outros, por acaso?
- Não. Apenas ciente das responsabilidades que isso traz.
- Quem lhe explicou?
- Ninguém, perguntadora, ninguém. Não costumo precisar que
me expliquem nada. Descobri sozinho.
- Como?
- E de que forma seria, perguntadora? Tentativa e erro, claro.
- Isso deve ter lhe custado muito.
- Cicatrizes. Quem não as tem? Eu apenas guardo a
consciência dos motivos para a existência delas.
- Então você é o senhor do Amor?
- Eu sou um senhor, com certeza. O amor tem livre arbítrio
para causar incêndios ou apaziguar inquietudes.
- Tem alguma previsão para mim? Um conselho?
Pausa longa. Silêncio pesado. Suspiro.
- Viva. Como puder.
- Só isso?!
- Isso é o bastante para alguém do seu tamanho,
perguntadora.
Marcelo Gomes Melo
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