Os brincos de ouro enormes eram pauta de discussão no trabalho, em casa, na rua em que morava e adjacências. Ela virou a garota mais importante da vila por causa daqueles brincos enormes. Dourados. Estaria namorando algum camarada rico? Os brincos eram mesmo de ouro? Seria fruto do trabalho da vida amarga, a prostituição?
Não, contra-argumentaram uns. Ela era moça direita, frequentadora da igreja aos fins de semana. Tímida e prestativa, só mudava quando os colocava. Aí virava uma rainha!
Pode ter ganhado uns trocos no jogo do bicho, por que não? Dera veado e o ex-namorado dela fora desmascarado há pouco tempo!
Os brincos hipnotizavam. Outras meninas fotografavam para postar no Facebook, senhoras a cercavam ostensivamente para admirar. Pacientemente ela deixava, sorria e agradecia os elogios. Ficava intrigada por que simples brincos hipnotizavam assim as pessoas! Logo ela que jamais chamara a atenção por nada.
Imaginava quando isso iria acabar, se acostumariam com os brincos, que eram, na verdade, bijuteria, embora ninguém acreditasse.
Um dia, reunidos na farmácia, vários vizinhos a cercaram quando entrou para comprar uma aspirina e puseram-se a filosofar sobre a razão de aqueles brincos chamarem tanta atenção de todos. De quase todos. O rapaz que trabalhava na limpeza da farmácia nunca demonstrara interesse. Era o único.
Finalmente alguém percebeu isso e o intimou. Por que não estava impressionado com os brincos, era cego? Invejoso? Burro?
Não, ele respondeu, incrédulo. O que vocês não perceberam ainda é que o que lhes chama a atenção não é o par de brincos!
Não? Então o que era? Pelo amor de Deus desvenda esse mistério!
E o garoto devolveu, sem parar de esfregar o chão:
- Sério?! Acham que o impressionante são os brincos? Não se tocavam de que o que realmente chamava a atenção são as enormes orelhas separadas da moça, que a transformavam em uma árvore de natal ambulante?! Francamente!
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