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Sob a rosa: os códigos do amor intranquilo



          Sob a rosa, ignorando os ferimentos, as minhas mãos acariciam a sua pele aveludada, lento como a eternidade, suave como o respirar durante o sono, alheio ao mundo como se deve estar. Quase em um transe religioso hipnótico alienígena, em conexão ultrassensível como o restante do seu corpo cheiroso como uma flor, macio como uma pétala, úmido como orvalho ao amanhecer.
          Ninguém morre hoje! Nem de amor nem de nada! Não há espaço para términos, aqui; existem começos e sustos, descobertas que enganam e enganos que elucidam. O que eu sinto é mais importante do que o que você sente, porque aparentemente o prazer segue sob o meu domínio. O mesmo vale para você. Egoísmo a dois, sob a rosa... Eu lhe dou de beber, você me dá de comer, e vamos resistindo assim, os cortes vão sarando, as cicatrizes aumentando, o aprendizado evoluindo sob a rosa.
          Um iminente desejo de amar aflora pelas paredes de nossas coxas, o sabor diferente alimenta os desejos de nossas mentes. Só podem escapar através dos nossos movimentos sincronizados. Apresentar almas em conluio nunca foi fácil...
          O poder que nos interliga é etéreo, vem e vai com desenvoltura e nos deixa satisfeitos e cansados ou amargurados, viciados na angústia de buscar constantemente o que não se sabe, sob a rosa.
          Os meus lábios selados pelos seus lábios ficam gelados, machucados, os pensamentos desorganizados. É assim, no fio da navalha, que os sonhos sobrevivem.
          Não há luz no fim do túnel, só há eu em você; não há som no fim de tarde, só pulsação sem fim. Sob a rosa, um mundo inteiro em duas pessoas, sem explicação para nada, além dos códigos do amor intranquilo.



Marcelo Gomes Melo

Há algum tipo de amor no início desse século?



          Ele, garoto da periferia, filho de pedreiro com dona de casa, aprendeu desde cedo o valor do estudo e do trabalho. Ela, nascida na classe média alta, bairro nobre, filha de advogada com líder sindical aprendeu logo o valor da influência, do dinheiro e status para colocar-se tranquilamente nas melhores posições, e então lutar pelo bem estar dos mais necessitados, pelo menos do ponto de vista dela mesma.
          Ele começou a trabalhar cedo como Office boy em meio período, no mais aclamado escritório de advocacia do país, combinando com os estudos incessantes. Galgou, posição por posição o próprio espaço, até se formar com muito esforço.
          Ela, na melhor faculdade possível, demorou a se formar por conta das greves que liderava contra qualquer coisa que se movesse ou respirasse; fazia piquetes e queimava pneus nas esquinas, gritava palavras de ordem e se envolvia em embates violentos contra as forças opressoras. Mesmo assim conseguiu se formar advogada e ganhou de presente um escritório só dela na área mais badalada da cidade para se exercer a profissão, embora quase não aparecesse por lá; era apenas mais uma fonte de renda, tocado por contratados competentes.
          Ele era capitalista. Amava a riqueza e admirava o poder que emanava daqueles ambientes e de seus ocupantes. Desejava vestir-se como eles e possuir o que eles possuíam; roupas de marca e carros importados estonteantes para impressionar as pessoas que o viram na miséria, e mostrar a própria evolução sócio-profissional.



          Ela frequentava locais pouco usuais para alguém de seu porte institucional, como frentes de fábricas, pátios, estacionamentos, praças públicas, fazendo protestos e reivindicando vantagens e direitos para o povo, contra a minoria branca e rica, como ela.
          Ele usava relógio de ouro e diamantes e era reconhecido nas baladas regadas a uísque pelo seu comportamento arrogante e exigente. Ela usava camisetas de grife com a foto do Che Guevara e era conhecida no meio sindical e político como uma garota arrogante e exigente.
          Viviam nos ambientes mais opostos e agiam de maneira bastante diferente; havia quase que nenhuma chance de eles se encontrarem. Só que eles se encontraram. Os seus olhares se cruzaram.
          Ele estava saindo de uma boate da moda e caminhava até o seu carro importado, carregando aquele sorriso fixo dos deslumbrados. Ela estava na esquina, barrando a passagem com um piquete contra as atividades que ocorriam na boate com o aval e participação dos porcos capitalistas. O carro dele fora pichado e os pneus furados; retrovisores quebrados.
          Como todos aqueles que dão valor às coisas conquistadas com muito suor ele ficou pálido e enfurecido contra aquela turba de pobres invejosos de seu sucesso. De braços abertos deixava à mostra o seu Rolex no pulso,  exigia saber quem cobriria os prejuízos.
          Ela notara as roupas caras e o olhar incrédulo dos ricos atingidos por prejuízo financeiro. Ele notara a força no olhar decidido da moça.
          Eles caminharam na direção um do outro, na calçada, tendo o carro como paisagem de fundo. Estavam destinados a se encontrar ali, naquele momento, daquela forma.



          Ela tomou a iniciativa. Portando um bastão roliço de madeira resistente arremeteu com fúria e partiu o crânio dele com alguns golpes potentes. Ele morreu na hora.
          Não existe amor no início do século XXI.



Marcelo Gomes Melo

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