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...Assim falou o psicopata canibal



“- Os olhos dela reviraram!” – disse ele esfregando as mãos numa alegria quase juvenil, os dentões brancos à mostra – Isso é bom! Isso é muito bom! Ha, ha, ha, ha, ha! Quer dizer que atingi o famigerado ponto G!
          Seus olhos demonstravam uma alegria quase febril enquanto percorria aquele quarto, sorrindo e respirando fundo para absorver aquele odor acre, para ele tão sensual. A adrenalina sacudia suas veias e o fazia quase estrebuchar de um prazer contido.
          - Minha querida, vamos tentar outra coisa, em minutos, me deixa apenas recuperar o fôlego, não seja cruel! A juventude abandona a um homem aos poucos, mas a experiência consome suas incertezas e faz dele um experimentador melhor.
          Realmente se assemelhava a um cientista ou a um Indiana Jones qualquer, com antebraços musculosos e uma tatuagem no rosto, ao lado do nariz, entre muitas outras pelo corpo. Contava que aquele corvo fora tatuado às costas com tinta de caneta preta e pregos de construção; isso causava  certa atração rústica por parte das mulheres. Os cabelos compridos e sem corte definido estavam espalhados displicentemente e as manchas vermelhas na camisa branca e no jeans azul sugeriam ser algum pintor; não de paredes, de telas. Um artista plástico. Isso ajudava bastante em suas conquistas. Além de sorrir sempre. Sorria para todos: mulheres, crianças, idosos... Isso era uma virtude para o seu ramo de trabalho. Considerava-se um político sem partido; um ator de monólogos teatrais que conseguia facilmente transformar-se em um mestre dos diálogos, quando encontrava companhia.



           - Querida, querida, você permanece se contorcendo como um peixe fora d’água! Que energia fenomenal! Eu adoro essa resistência feminina volátil como uma bomba em contagem regressiva! – ele murmurava uma canção qualquer enquanto manipulava um pote de vidro com um conteúdo branco, tentando abri-lo. Falava olhando-a com o canto dos olhos, concentrado no vidro. – Pronto, meu amor, abri! Esses caras inventam esses potes com tampas quase impossíveis de abrir. Vê? Machuquei meu dedo! – vira-se para a cama e mostra as gotas de sangue escorrendo do dois últimos dedos. Faz uma careta que julgava engraçada e aproxima-se da cama, sentando-se ao lado dela com o pote aberto.
          - Minha querida, por que não fica de lado, um pouquinho? Assim! – empurra gentilmente, colocando-a de ladinho – Hummmm, esse gemido foi cruel! – sorri enquanto derrama parte do conteúdo na palma da mão machucada – Sabe o que farei agora? Não? – sorri com os enormes dentes brancos, embora ela estivesse de costas pra ele e não pudesse ver o que considerava seu mais sexy atributo – Vou untar você com esse preparado.
          Começa a esfregar o conteúdo pelas costelas da moça, cantarolando a mesma canção de antes – Ohhh, pode gemer mais baixo um pouco, querida? Não queremos atrair a atenção dos vizinhos, queremos? Quer saber o que é isso? Sal, principalmente; iodo. Bom para contusões – espalhava o preparado pelo lado do corpo da moça, enquanto conversava gentilmente – Não remexa tanto! Vai se sentir muito mais relaxada com esse meu preparo maravilhoso... Como uma costela gaúcha pronta para ser admirada por todos os seres carnívoros antes de uma refeição memorável!



          Terminando de untá-la, afastou-se até um canto do quarto em que havia uma bancada de madeira com diversos objetos e escolheu um espeto de um metro e meio, afiado como a língua de uma fofoqueira, com empunhadura de madeira cilíndrica e ponta em forma de flecha em aço reluzente.
          - E agora, meu amor, o grand finale! Terei que amordaçá-la para isso, querida, mas assim que estiver devidamente espetada, deixarei que sua voz excitante seja ouvida por todo o quarteirão vazio! – o sorriso aumentou de tom e os olhos avermelhados ganharam contornos assustadores. Arrancou a camisa branca completamente manchada de sangue e a pele repleta de símbolos demoníacos ficaram à mostra. Empunhando o espeto de churrasco gaúcho aproximou-se lentamente da moça imobilizada sobre a cama, bastante ferida e sem forças para qualquer reação. Na ponta da cama ergueu o espeto, arregalando os olhos e soltando um urro de satisfação antecipada.



        A porta foi derrubada com um golpe poderoso e seu corpo passou a sofrer espasmos contínuos, balançando freneticamente enquanto fitava os policiais armados até os dentes disparando sem piedade contra cada parte de seu corpo amalucado. Soltou o espeto, que lhe escorreu pelo lado do corpo e fincou-se no chão de madeira que receberia seu corpo ensanguentado segundos depois.
          - Tudo bem, fique calma, somos do resgate especial, você está salva! – disse uma policial enquanto soltava as amarras da moça com um corte feio nas costelas cobertos de sal e iodo. Outro solicitava uma ambulância e um rabecão.
          Na rua, jornalistas de programas sensacionalistas já se acotovelavam tentando buscar as melhores imagens para o noticiário noturno; moças bonitas, vestidas com terninhos bem cortados ajeitavam os cabelos e empunhavam microfones, prontinhas para mais um show.



Marcelo Gomes Melo

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