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Previsões escalafobéticas para um mundo reconfigurado


          ... E as águas cairão em torrentes, irmãos em armas! E devastarão cidades enquanto o povo clama por elas; mas, ao invés de saciar-lhes a sede e limpar-lhes o corpo conspurcado pelo pecado do funk carioca e das duplas de tomateiros caipiras, as águas os derrubarão e os devorarão afogados, soterrados na lama de sua própria culpa.
          E fanáticos enlouquecerão, enquanto os cínicos se tornarão fanáticos. O planeta trocará de nome e as proporções de terra e água se inverterão; o planeta Terra será rebatizado planeta Água, e a humanidade será reconfigurada, assim como países em novas extensões territoriais, clima e idiomas.

          Muitos morrerão. Muitos. Mas políticos, não! As desgraças serão substituídas, mas os pais das desgraças permanecerão, de paletó e gravata, manipulando tolos que implorarão diariamente para continuarem a ser enganados.


             No final, caros convivas, talvez bebam petróleo para economizar água, um bem de extremo valor, acessível apenas aos ricos. Por isso, liguem os seus celulares! Acessem a Bíblia virtual! Aumentem bastante a letra, para certificarem-se de que podem enxergá-las.
          Os “broderes” que ainda souberem ler se assustarão a ponto de desabarem mortos de horror e medo. Os que fingirem entender, porque estão há muito afastados das letras e do estudo, da escrita e da leitura gritarão e chorarão, como é de praxe entre os preguiçosos e covardes, enquanto a face bovina, mascando um chiclete inexistente e os olhos baços demonstra que ignoram completamente a razão pela qual choram.
          Novos pensadores e cientistas ateus apresentarão novas teorias de que o mundo acabará em barranco, como uma enorme queda d’água... Sem água. Acessem os seus ipad, hermanitos, e toquem no volume máximo o hino axé da redenção final!


Marcelo Gomes Melo

“Linguinha”



          O que deflagrou o problema como se fosse um ataque terrorista ao escritório de advocacia daquele prédio luxuoso no centro, a nata das firmas lucrativas e seus homens de negócios frios e calculistas foi apenas uma palavra, dita em voz alta na presença da suposta vítima, que odiava o apelido, o que era sabido por todos os seus colegas, do ascensorista ao maior investidor da empresa.
          Que sempre falavam às suas costas, imitavam e riam bastante, era notório, até ele sabia, embora fingisse que não. O que havia era essa linha tênue entre o desrespeito e a troça com a manutenção do status conquistado com muito trabalho e persistência.
          Era quase hora do almoço de um dia agitado na firma, com homens de terno e mulheres de tailleur circulando com documentos importantes, pastas misteriosas, falando ao telefone, todos funcionando na adrenalina máxima. Os problemas se multiplicavam e eles eram solucionadores. O bônus gordo de fim de ano dependia disso.
          Não havia espaço para piadas ou brincadeiras naquele ambiente, naquele momento em que o Doutor Ataildes cruzou o salão bufando, tenso, com o paletó de grife aberto, suando como funcionário de sauna, a pasta marrom de couro tremulando na mão direita como a bandeira da justiça. Ele se encaminhava ao escritório do chefe para discutir documentos importantes sobre um caso do qual estava encarregado, quando, de uma das muitas mesas do longo escritório ouviu-se um brado retumbante, num tom jocoso que causou uma explosão de risos imediatamente.
          As gargalhadas explodiram ininterruptas e o fizeram estacar no meio do corredor entre as mesas, como um camaleão. Imóvel, de olhos pétreos, mudando de cor, do pálido para o rosa e em seguida bordô, para finalmente atingir o tom púrpura. Apertou a alça da pasta de couro e gotas de suor escorreram por sua face.
          - Linguinha!



             Essa fora a palavra. O apelido da discórdia que algum gaiato sem coração, sem pai nem mãe ousara externar no pior momento possível, em que todos estavam sob a máxima pressão.
          Talvez esse tenha sido o motivo. Desencadear uma onda de gargalhadas que aliviasse o peso das responsabilidades trabalhistas, renovasse o ar do ambiente e retomasse as energias para a continuação do trabalho. Algo simples como reiniciar o computador para melhorar o seu desempenho.
          Até aí tudo bem, caso não fosse cruel aliviar o peso de vários trabalhadores depositando na conta de apenas um, que poderia superar ou não a brincadeira. Linguinha não superou. Odiava a alcunha que carregava desde os tempos de colégio, passando pela faculdade e que nenhuma aula de dicção ou fonoaudiologia corrigisse. O cérebro estava condicionado.
          Às vezes, nas noites de amor e sexo, admitia que sua amada parceira o sacaneasse assim, sem reclamar, pois o “vai linguinha” o acelerava no alcance do ápice. Depois, enquanto fumavam juntos ainda ficava emburrado com a mulher, mas superava.
          No campo, jogando futebol, quando as emoções estão à flor da pele lhe rendera diversas brigas e expulsões, inclusive com a tentativa de agredir ao árbitro e pessoas da torcida.
          Esse fora o calcanhar de Aquiles do Linguinha. Quando se virou em direção às mesas, as gargalhadas secaram e um silêncio incômodo, lotado de expectativa tomou conta de todos.
          O estagiário em pé na Xerox encolheu-se, tentando sumir do ambiente; as secretárias tentavam manter a pose como podiam e os advogados experientes juntavam as sobrancelhas tentando conter o riso e demonstrar concentração.
          Linguinha os observou, um a um, como um carcará sanguinolento, e após segundos que pareceram horas, se manifestou:
          - Que “poga” é essa, “kagalho”?! Quem foi o fdp que “ggigtou” isso? Vai “teg” que se “apgsentag agoga”! “Covagde do kagaio”!
          O homem afrouxou a gravata e passou a caminhar por entre as mesas brandindo a maleta como uma arma mortífera, um detector de quem o desrespeitara descaradamente. Olhava na cara de todos, furioso, sem obter qualquer confissão. Espuma no canto dos lábios, só ele falava, nervoso, enfurecido.


             - E então, “poga”? É homem “paga falag” pelas costas, mas não tem “cogagem” de confessar o insulto?
          Ele derrubou grampeadores e chutou cestos de lixo na caminhada da fúria, possesso como um vingador, digno como um francês.
          - Eu “jugo” que não vou “pgocessag”; só “quego matag” esse “desgagçado”!
           Atenção do chefe, que estava em sua sala aquário cercada por paredes de vidro em reunião com alguém importante foi logo atraída por aquela balbúrdia.
          - “Paguem” com isso, “bugos”  estúpidos! “Pegcisam tagtar bem aos companheigos”, não colocá-los “paga” baixo com esses “comentáguios” infantis! Quem foi? “Quego pogmeteg” que vou “dag” queixa “contga” o “salafaguio” que fez isso comigo!
          Quando estava verde como um pepino, o chefe chegou ao ambiente exigindo saber o que houve. O Linguinha estava a ponto de enfartar e foi chamado para a sala do patrão,conciliador, que ofereceu água e procurou acalmá-lo como podia, prometendo não medir esforços para descobrir e punir o culpado. Já conhecia o problema de língua presa de Ataildes.
          Apresentou ao homem que estava com ele na sala como o supervisor geral da empresa, que estava ali justamente para resolver problemas profissionais como aquele, que envolvia desrespeito por parte de colegas; assédio moral. O problema do doutor Ataildes seria o primeiro da lista.
          - Não é mesmo, senhor Maldonado? – o chefe perguntou, dirigindo-se ao supervisor, que, sentado com as pernas juntas e uma maleta 007 no colo apenas assentiu positivamente, sem abrir a boca para dizer nenhuma palavra.
          Linguinha foi se acalmando, ouvindo as ponderações do chefe e o clima foi melhorando; o estranho é que todas as vezes em que tentou incluir o supervisor no assunto, ele, parecendo meio assustado, colaborava apenas com gestos e sorrisos tensos, nada de falar.
          Finalmente Linguinha foi convencido pelo chefe a aguardar as investigações trabalhando em casa, via internet e retornar no dia seguinte com a solução para o cliente, e o probleminha dele estaria resolvido. Linguinha despediu-se do chefe e do supervisor, cruzando a sala de cabeça erguida, atento, digno e com vontade de fazer justiça com as próprias mãos; mas ninguém lhe deu motivos.
          Depois da saída de Ataildes linguinha, o chefe, curioso, quis saber do supervisor por que ele nada dissera na presença do advogado que esperava uma solução para o caso.
          O supervisor, então, respondeu:
          - “Clago” que eu não “diguia” nada! Já pensou se ele acha que eu estava “bigcando” com ele?


Marcelo Gomes Melo
Os segredos de sua lista de favoritos


        Assistindo ao programa do musico e apresentador Rogério Skylab no canal Brasil, chamou-me a atenção um comentário do entrevistado, o quadrinista André Dahmer, que disse ser interessante descobrir a lista de favoritos no computador de pessoas famosas, porque isso daria a ideia do caminho de vida tomado por essas pessoas, que invariavelmente seriam diferentes do que demonstram.
         Os interesses de qualquer pessoa pode determinar quem é ela, institucionalmente? Talvez. Suas preferências provavelmente digam respeito à imagem pública que deseja construir de si mesmo, o modo como deseja ser visto pelas outras pessoas. Então, em uma pesquisa sobre autores, por exemplo, é bastante natural que alguém avesso à leitura procure citações populares, pois desse modo se incluirão no indistinguível gosto das massas. Paulo Coelho, então, poderia ser bastante citado como preferência; mas em caso de perguntas mais específicas ficará claro que a enorme maioria de quem o citou jamais o leu, ou a qualquer outro tipo de livro de qualquer autor.
        O ponto fora da curva é saber quem realmente são essas pessoas quando estão sós, sem testemunhas, sem que ninguém os  veja. O que fazem? Do que gostam? Por que as preferências nunca coincidem?

          O ser humano age assim: cria uma imagem pública com a intenção de vender ao restante da sociedade; dentro dessa imagem cria uma ideia da maneira como acha que as pessoas o veem e não faz ideia de como realmente o veem. É comum. Há os que saem espalhando informações sobre o que gostam, o que odeiam, o que acham certo ou errado, repetem sobre si mesmos que são “isso”, são “aquilo”, ajudam “nisso”, têm dó “daquilo”, não é justo “isso”, é injusto “aquilo outro”... A lista de qualidades é imensa, mas a de defeitos inexiste.



          Ninguém jamais para por um momento com intenção de analisar a si mesmo como realmente o são; conhecer os próprios erros e aceitá-los é mais importante do que os acertos, pois esses últimos saltam aos olhos. Qualidades não precisam de propaganda. Defeitos precisam ser relembrados a todo instante, como fazia Julio César, imperador romano, para equilibrar a chamada “síndrome de Deus”, de achar ser melhor do que realmente o é; melhor do que as outras pessoas do mundo.
          Ah, os segredos que cada um carrega! Dançar quando ninguém está vendo, cantar no banheiro, fazer caretas no espelho... Escolher sites e blogs diferentes para acompanhar do que os que dizem por não serem de sua área de interesse público... Deixar de dividir a informação com ninguém...
          E se tivesse que citar três dos seus favoritos? Não toda a sua lista, apenas três. Teria coragem?

          Se tiver, faça. Cite três de dos seus favoritos e em seguida analise as suas escolhas que alardeou. Citou a algum dos que não queria que o mundo soubesse?

Marcelo Gomes Melo

As verdadeiras rainhas das pistas de dança e as lagartixas




          Já dançou, nos áureos tempos, com aquele tipo de garota que te mantém afastado na pista de dança, parecendo que tem nojo de você, só que é ela quem parece uma lagartixa nojenta e pegajosa, fria e distante, que não sente a canção e não demonstra nenhum tesão por você, pela música, diversão e muito menos pela vida? Um cadáver ambulante assombrando os bailes juvenis.
          Aquela monstruosidade com quem só se dança se perder o sorteio, e ainda assim fica-se resmungando internamente, torcendo para que a música acabe ou iniciem a dança da vassoura naquele instante, tirando de você o desprazer que é circular com aquela boneca de plástico pelo salão, ficando com a vassoura que, pelo menos não se importa de varrer o chão.
          Esse tipo estranho frequentou todos os bailes do final dos anos oitenta, acredite. Geralmente eram bonitas e inexpressivas. Apostavam que a beleza decantada pelos pais e parentes era suficiente, e gostavam de servir de inspiração platônica para os garotos tímidos que apenas observavam. Gostavam de ser olhadas, não tocadas; eram incapazes de dar ou sentir qualquer tipo de prazer. Amavam a si mesmas, mas à distância.

          Mal sabiam esses fantasmas das pistas durante a seleção de músicas românticas é que não bastava a beleza; o que valia era o calor. O amor pela dança, pela diversão. Saber se encaixar entre os braços, coxa entre coxas, os movimentos fluidos, o olhar de promessa cínica que dificilmente se concretizaria... As mãos no peito, a respiração suave sentindo intensamente a música. Era com esse tipo de garota que a dança se tornava inesquecível. E anos depois ainda é possível fechar os olhos e sentir o perfume e o leve tremor nos lábios que ela se permitia mostrar para completar o encantamento.



Marcelo Gomes Melo



Eu poderia até lhe contar, mas então teria que...


             As mulheres querem sempre saber de tudo, e sempre querem saber a verdade. Será que não imaginam o quão perigoso isso é?
          Um homem pode guardar para si grande parte das maldades do mundo sem pestanejar, sem falar por horas reclamando, praguejando e se lamentando. Chorar à toa é deprimente, desconfortável e indigno para um homem. Não se trata de machismo, de forma alguma! Nas cavernas em que habito isso não existe. O problema é atitude e percepção diferente de mundo.
As mulheres querem sempre estar entre os que sabem de  tudo. Mesmo que não tenha nenhuma importância e não vá afetar suas vidas, preferem estar por dentro. “Como assim seu amigo bêbado e fumante está com o fígado e os pulmões avariados e você nem me contou”? Eu sempre disse para você não se envolver com ele, que era má pessoa! Como permitem que ele jogue futebol e baralho com vocês?!
É ele quem está doente, não eu! Eu não fumo e só bebo socialmente, como é que o homem pode ser má influência, você pergunta timidamente, temendo produzir uma série de sermões e brigas desnecessárias.
O melhor exemplo de tudo isso é o daquela mulher que namorou o cara por anos e anos, ficaram noivos e ela sempre insistia em saber o que ele tinha que fazer todas as quartas-feiras entre 21h00 e 24h00, chovesse ou nevasse, desde que se conheceram. Ele, sério, sempre respondia que poderia até contar, mas então teria que matá-la. A moça sorria amarelo, mas não se conformava. Como o noivo podia sumir toda quarta por três horas sem contar a ela, ou pelo menos levá-la como companhia? Afinal esse mundo era tão perigoso... Como se ela fosse uma guarda costas eficiente. Mas não haviam nem se casado ainda; melhor garantir-se primeiro antes de infernizar a vida do rapaz.


Só que o casamento veio. E com ele todas as garantias financeiras, afetivas e legais que cobriam o seu direito à cobrança sobre os atos do marido. Então começou a aterrorizar logo na lua de mel, insistindo para que ele contasse o que ia fazer todas as quartas sozinho e aonde ia. A resposta, gentil, mas fria era a mesma: até podia contar, só que teria que matá-la.
Com o passar dos tempos o sorriso amarelo de conformismo e aceitação foi se tornando um rosnado ameaçador, mostrando unhas e dentes, acelerando a voz esganiçada sem parar n os ouvidos do homem, cuja calma estava sendo minada e a tolerância abalada.
Até que, em uma quarta-feira, ao chegar do compromisso noturno foi abordado pela esposa de forma mais insistente e desagradável, repetindo as mesmas cobranças e perguntas, cada vez mais agressivas e difíceis de suportar. A madrugada já ia alta quando a resistência estoica do marido ruiu. Sentando-se na cama, curvou-se e com os lábios alcançou a orelha da esposa. Atenta, ela sorveu cada palavra que ele contou em voz baixa e tranquila. Arregalou os olhos, abriu a boca em forma de zero, demonstrou todas as características femininas de satisfação por descobrir um segredo alheio. Fez expressões de reprovação, balançou a cabeça positiva e negativamente a seu tempo, até que suspirou por longos minutos, ciente de tudo, de cabo a rabo. Quase um orgasmo; não, melhor do que um orgasmo! Logo viriam os questionamentos intermináveis, a pressão para saber mais detalhes...



O marido vestiu o roupão, impassível, e foi até a cozinha, deixando-a na cama, pensativa, vitoriosa, degustando o segredo. Quando ele retornou ao quarto ela já estava preparada para iniciar o terror pelos detalhes. Abriu a boca e olhou para o marido em pé ao lado da cama. Deparou-se com o cano escuro de uma arma de fogo apontada para ela. A voz sumiu de sua boca e o sangue de seu rosto. Só teve tempo para lembrar o que ele sempre lhe dissera desde o tempo de namoro.
A polícia a encontrou morta com dois tiros no peito e um na cabeça, execução profissional. Assassinato limpo, rápido e frio. O marido havia sumido sem deixar vestígios ou impressões digitais em lugar algum. Jamais o encontrariam.
No inferno, o diabo já pensava em transferi-la para a solitária, pois não aguentava mais tanta pergunta sobre o marido que a detonara!


Marcelo Gomes Melo

É tétrico. E continua.


Morreram. Felizes e ignorando o valor das informações que carregaram em seus cérebros tortuosos.

Faleceram. Não sem antes espalhar pelo mundo os dogmas fúteis que lhes instigaram a crer como um zumbido constante em seus ouvidos que logo ficaram moucos. E os fez aprender a comunicação não verbal mesmo que estivessem de costas, comandados pelo tremor da terra quando se aproximavam sorrateiramente. Um trem descarrilado abalando as estruturas de aço dos grandes edifícios que guardam carneiros vestidos como lobos, agindo como lobos, destroçando a carne uns dos outros e massacrando ovelhas, fazendo-as acreditar que um dia chegariam ao status de lobos.

Daí a traição. A falsidade explícita e as atitudes covardes proliferaram por culpa deles, e assim continua até hoje. Lucrar com a desgraça é mais importante do que acabar com a desgraça. Uma multidão de desgraçados nojentos caminhando a esmo, ouvindo e multiplicando bobagens e canalhices, deixando um rastro inacabável de sangue por onde suas teorias nocivas e informações malditas passam.

Lugares inóspitos, hospitais sem médicos e sem macas, salas de aula vazias, sem alunos e sem professores, igrejas destruídas e cultos inexistentes por falta de fiéis e de guias espirituais verdadeiros... Apenas os shows de axé e sertanejo americanizado lotados por tolos que expõem seus corpos enquanto se distanciam cada vez mais de suas almas escuras.

Morreram. Isso nada significa. Logo surgirão outros, piores dos que os que se foram porque sabem ainda menos e creem ainda mais. Há uma névoa escura em torno do planeta. A culpa não é do planeta.

Não há espaço para reles destruidores, não há como salvar miseráveis nem com toda a expiação que os acometesse em três vidas!

Tudo é tétrico. E continua.
 
Marcelo Gomes Melo

As luminárias que clareiam o caos




          Há países que idolatram cheiradores de cocaína, burladores do imposto de renda, vagabundos mimados, manipulados fruto de uma imprensa corrupta desprovida de opinião, muito menos o poder de formá-la com qualidade.

          Por isso séries sobre zumbis fazem tanto sucesso, e Érico Veríssimo previa há tempos  que a ira dos cadáveres insepultos acabarão por tomar o poder, visto tantas ratazanas covardes atirando migalhas para formar subservientes aos montes, até que não haja razão para que o mundo se salve.

 
          Explosões fanáticas matando inocentes, idiotas sem consolo se encolhendo ante a maldita corja que cria a maldade que assola os países.
          A chance de ser subjugado pelo universo, escravos de quem viaja entre as estrelas pode ser a última ilusão de salvação. E ainda assim acaba em derrota.
 
Marcelo Gomes Melo

A Era das paixões além da eternidade



 
          Reza a lenda que a princesa Yoko Sama
          Caminhou por todo o Japão, anos a fio
          Descalço, sem jamais tirar os olhos
          Do deslumbrante Monte Fuji
Local em que residiria o seu amor verdadeiro
Desprovido de dor, desconfiança e tristeza
Enriquecido pelos séculos
Imóvel em suave resistência aguardando a sua chegada
E a princesa jamais esmoreceu
Caminhou, caminhou sem cansar
Tornou-se rainha sem jamais renunciar ou desviar o olhar
Eis que seus olhos cansaram, mas resistiram à luz e ao tempo
E o seu corpo, de aço, jamais desistiu ou deixou de se curar
Até o momento em que o monte se deixará derrotar
E o seu amor eterno se transformará em pérolas
Que encherão o outono japonês de perfume e beleza

E de mãos dadas com seu amor
E um sorriso terno em seus semblantes satisfeitos
Observarão o surgimento de uma nova Era
Não mais serão protagonistas, apenas parte dos desejos humanos
Dos casais apaixonados ao redor do planeta
E gotas de frescor molharão as manhãs renovando a esperança
Como o tempo se move lenta e constantemente.
Marcelo Gomes Melo

Ignomínia: produtores de duplas caipiras
 
 
 
 
         São como mães de misses, cafetinando os molequinhos desde o berço, incentivando, até obrigando aos “bocas abertas” a afinarem as vozes enquanto plantam tomates ou cortam cana de açúcar sob o sol furioso com as injustiças da vida e com a ganância de pais que usam as crianças como única moeda de troca com o mundo para enriquecer e passar a possuir plantações como aquelas, com a intenção de expandir a escravatura de mais e mais jovens.
          Fazer com que os filhos frequentem a escola é absolutamente secundário, afinal as duplas que hoje em dia nadam em dinheiro e dirigem automóveis cujos painéis em inglês são impossíveis de compreender por quem desconhece até o básico do próprio idioma. O truque é carregar no sotaque e fingir que estão falando errado daquela maneira por puro charme, e não por ignorância completa, fruto de escolha própria, pois dinheiro é mais importante do que conhecimento.
          Após serem treinados desde pequenos, como passarinhos em gaiolas de mato, curtindo o couro e derretendo os miolos, tentam a sorte com os caça talentos do interior, que proliferam como chuchu em busca de garotos com nomes horríveis e coragem para cantar jingles de caldo de carne e embalar o país com versos simplórios que produzem moedas. Então, ao escolher os novos sucessos do mato, iniciam a estrangeirização comprando jeans importados estilo pula brejo, tão apertados que os cabelos dos garotos se arrepiam e a voz fica ainda mais fina e esganiçada; chapéu Stetson para texanos, cinturão com fivela do tamanho da cabeça do incauto, geralmente um cavalo ou um boi; botinas de salto alto, couro de cobra, bico fino com ponteira de aço e liberdade para beber energético com uísque, virando um caipirão estrangeiro falso, visual totalmente diferente do verdadeiro capiau do Brasil.
 
          Realizadas tais ações, vendem sem dor de consciência ao resto do país algo que nada tem a ver com a cultura interiorana brasileira. Trata-se apenas de imitação barata e irrisória da cultura alheia diluída para facilitar a aceitação e render dividendos.
          Os pais ficam orgulhosos por terem vendido os próprios filhos e apregoam a si mesmos como salvadores da pátria. As mães de misses perderam terreno, visto que hoje há inúmeras outras maneiras de se negociar as filhas, investindo inclusive em acessórios internos para o corpo, como silicone e treinamento intensivo em exposição da vida íntima e pessoal.
          A real canção de raiz brasileira, Cantada no interior, valorizando a verdadeira cultura nacional restringe-se aos confins, nos serviços de alto falante, escondidos das grandes metrópoles que desaprendem a destacar o que lhe pertence em nome de consumir lixo comercial e industrial realizados por inocentes que não sabem de nada.
 
Marcelo Gomes Melo
 
Formas de amor do terceiro milênio
 



          Uma garota gostosa, linda, deslumbrante e sensual. Top model de primeira linha que fazia corações parar apenas com sua caminhada letal. Abria talões de cheque apenas com o balançar dos cabelos e valia cada cartão preto sacado nos bons restaurantes e hotéis do mundo.

          Para ganhar um simples oi dessa figura icônica e imponente o cabra macho precisa vestir Armani, calçar sapatos italianos  confeccionados à mão, usar produtos metrossexuais como cremes antienvelhecimento, fazer as unhas das mãos e dos pés... Resumindo, não era prato principal para qualquer um.

          Os empresários, jogadores de futebol ricos, especuladores da bolsa de valores, seres ávidos por status e desejosos por penetrar no mundo das grandes figuras dignas de sair com uma sereia encantadora como ela, a incluíam nas orações todas as noites e ofereceriam a mãe como parte do pagamento para tê-la por uma noite, acreditando ser a moça a verdadeira chave mestra para invadir o mundo dos mega multimilionários possuidores do poder mundial irrestrito.

          Desejá-la desesperadamente foi a sina desse cidadão, rico, mas apenas mais um no mercado de valores; tinha dinheiro mas não influência suficiente para chamar a atenção da moça. Anos a fio comprou todas as revistas em que ela saiu nua, cobriu de pôsteres as paredes de seu quarto e a reverenciou por todo o período da flor da idade, com uma pontinha de esperança de, um dia sair com ela.

          Agora que a idade da profissional avançava e já não estava no radar dos reis do petróleo e políticos de ponta, resolveu arriscar e, através do contato com o empresário da diva deu um lance por um jantar nababesco seguido de uma noite maravilhosa em um resort de luxo.

          A resposta veio horas depois. Com alguns acertos financeiros seria possível agendar o encontro e premiar o sonho do abastado homem de negócios que frequentava o limbo dos endinheirados e alcançaria pelo menos a fila para a antessala do inferno dos extremamente trilionários.



         Um sorriso largo com mais dentes  do que juízo estabilizou-se na face maltratada pelo tempo do homem, que imediatamente trancou-as no escritório particular munido de calculadora científica e todas as aplicações financeiras que tinha, inclusive nos paraísos fiscais. Estava determinado a conseguir o encontro de qualquer maneira.

          Oito horas de cálculos depois ele soube que para agendar com a beldade uma noite de prazer teria que vender um rim. Nem titubeou. Acionou seus asseclas no submundo e colocou o rim à venda para, após meses de recuperação obter a noitada de amor mais sensacional do planeta.

          Na noite perolada, com um rim a menos e um sonho a mais, o homem desfilou com a delícia humana pela estrada do arco-íris. De braços dados com a moça distribuiu sorrisos, brindou com champagne, ofereceu morangos com chantilly e uvas suculentas. Não se importou com a ausência de conversa pela falta de cérebro por parte da profissional; ela sabia fazer cara de inteligente como ninguém.

          Quando subiram para a suíte presidencial com intenção de concretizar a noite de amor, ele flutuava de alegria. O que de mais maravilhoso poderia acontecer com ele? Um homem que viera de baixo e que agora estaria por baixo da mais desejada atriz e modelo de todos os tempos. Seu nome faria agora parte do panteão de poderosos que a possuíram completamente. E se ela resolvesse engravidar e tomar 80% de sua fortuna para criar o filho? Isso seria sensacional, ele estaria eternizado!

          O que mais, perguntava-se, o que mais poderia lhe acontecer depois de tudo isso?! Não era religioso, mas agora acreditava que Deus existia.

          Foi descoberto de manhã mergulhado em uma banheira recheada de gelo, sem um pulmão e o fígado, mas com o mesmo sorriso fixo de prazer e felicidade.

 

Marcelo Gomes Melo

Aranha!
 



          A noite ferve. A temperatura é tão densa que eu poderia mordê-la. Recostado a um travesseiro macio, na semiescuridão, mantenho o corpo esticado, os músculos tensos, os olhos semicerrados. Gotas de suor deslizam por minha fronte, causando arrepios. Mantenho a respiração lenta o quanto posso. Ofegante quando não dá mais para controlar. No silêncio que antecede ao trovão, o meu respirar é como o vento através das frestas nas cavernas pedregosas, desviando de estalactites.

          O roçar no lençol me desestabiliza a ponto de meus olhos se desviarem do ponto qualquer no teto e buscar, no reduzido campo de visão horizontal a sua chegada iminente. Nada. Lábios secos, pensamentos embaralhados. Posso molhar os pensamentos e desembaralhar a língua. Ou ao contrário. Tanto faz.

          Imagino suas formas anatômicas, eficientes e econômicas nos movimentos, lindas de ver, melhores de tocar, apavorante de sentir! Adrenalina pura sendo contida pela vontade férrea, como um dique prestes a explodir e inundar toda uma cidade, tranquilizando uma civilização inteira no fim, ansiedades destruídas pelo prazer irrevogável que encaminha à outra dimensão.

 

          Enfim o toque. Sedoso, no peito do meu pé; lentamente subindo, saboreando toda a área. Macia, algo aveludada, eu sinto. Mordo os lábios por instantes, mas não irei reagir, como prometi. Os pelos, sedosos em minha pele, se esfregam, molhados. Meu pé molhado. Uma textura em camadas se encaixando em meus poros...

          Agora subindo, alternando minhas pernas, num zigue-zague erótico para a mente, que envia sinais intermitentes ao corpo, intensos. Minhas mãos se fecham e se apertam, contrariando a vontade de reagir e tocar, pegar, dominar. À altura dos joelhos uma curvatura sexy e uma leve pressão que enrijece meus pés. Respiração presa em flagrante e contida em regime de solitária. Um esgar de luz na janela fechada não permite descobrir o horário. Tampouco importa.

          Sobre minhas coxas. Sinto os sensores atentos, experimentando o calor, se apoiando com leveza, roçando e conquistando. Espalhando os odores de sua presença sem pudor, como se carregasse uma placa de “cuidado, em altas doses posso matar”. Os movimentos sugerem sorrisos de degustação em minha mente inóspita de pensamentos comuns!

          No meu colo, como um balanço, sobe e desce oferecendo todo o perigo que o mais corajoso homem poderia aguentar, cortando o meu silêncio treinado com um gemido atormentado, interrompido pelos estertores inquietos de um corpo quase em convulsão.

          No umbigo mergulha, me molha, se esfrega e continua, indolente e constante, sem se importar com o estômago que se contorce. Sobe mais, pelo meu peito e pelos meus braços. Nos meus ombros, em busca de encaixar-se em meu pescoço. Vai-se todo o ar. Permanece toda a expectativa. Estou sobrevivendo! Sobrevivendo para requisitar o meu prêmio! Alcança o meu queixo, meus lábios, que já não param, se recusam a manter o selo. Fecho os olhos e o tempo congela, as sensações perdem qualquer adjetivo, somos sujeito e verbo.

 
          Não tenho como pensar em nada e não existo sozinho nesse momento. É medo, é querer, é o quê? Desespero que leva à morte! Sobrevida que dá aos fortes. Penso em não me afogar, em subir para respirar sem sair da caverna que me mantém sob estreita vigilância. Sobrevivo! Eu sei que é agora que começa o caminho que leva ao paraíso!
 
 
Marcelo Gomes Melo

Para ler e refletir

A lapa voluptuosa

  Era uma lapa de bife de uns cinco quilos, sem mentira nenhuma! Estava lá, exposto para quem quisesse ver e desejar, rosado, fresco, maci...

Expandindo o pensamento